quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Queda de Singapura / A Queda da Birmânia



Fevereiro 1942

A guerra do Pacífico



“Depois de Pearl Harbor, o objetivo do Japão era capitalizar o fator surpresa e estender rapidamente seu domínio no Pacífico e na Ásia oriental, para obrigar os Estados Unidos a uma paz negociada que ratificasse as conquistas territoriais japonesas. Semelhante à estratégia nazista, a chave do sucesso japonês é uma vitória rápida e espetacular com o objetivo de interromper o fluxo da ajuda americana à China, expulsar o domínio britânico da Ásia e garantir para si o fornecimento vital de petróleo, borracha e matérias-primas. Esse projeto de domínio continental também tem um forte componente ideológico: o Japão não esconde a ambição de se apresentar como o libertador dos povos asiáticos da secular opressão do colonialismo branco. Contando com uma relação de forças favorável, Tóquio abandona toda cautela, mas cometerá dois graves erros de avaliação estratégica e política. O primeiro é a quase inevitável decisão de jogar todas as cartas na perspectiva de um conflito de curta duração. O segundo consiste na avaliação falha da capacidade de reação dos Estados unidos. Quando o rádio anuncia o ataque a Pearl Harbor, os americanos abandonam toda reserva neutralista e entram em guerra unidos contra o agressor. A poderosa máquina bélica e industrial americana será o fator decisivo em determinar a sorte da guerra do Pacífico.”


O Colapso da Grã-Bretanha na Malásia

“Enquanto está em curso a operação contra Pearl Harbor, o Japão desencadeia a ofensiva contra as possessões britânicas na Ásia. Em poucos dias a frota aérea e naval inglesa em Hong Kong é destruída pelos bombardeios. Em 26 de dezembro os japoneses (provenientes de Cantão) dominam a colônia britânica. A resistência dos tailandeses, conquistados para a causa japonesa, é pouco mais que simbólica. Menos de uma semana depois os japoneses penetram na Malásia setentrional e rechaçam as tropas inglesas para a ilha-fortaleza de Cingapura, onde em um raio de cinco quilômetros se amontoam cerca de cinco milhões de fugitivos. Cingapura era o 'Gibraltar do Extremo Oriente' e um símbolo da dominação do império britânico no oceano Índico. A fortaleza, erguida em 1938, é munida de canhões tais que tornam inexpugnável a um ataque vindo do mar. Quando as operações terrestres mal se iniciaram, as duas meninas dos olhos da esquadra naval inglesa no Pacífico, porém, já tinham sido despachadas: em 10 de dezembro de 1941 um arrasador ataque combinado de aviões torpedeiros e bombardeiros japoneses afunda os encouraçados Prince of Wales e Repulse.

Donos do ar e do mar, os japoneses multiplicam os desembarques de tropas na Malásia. Sua ofensiva terrestre subverte toda previsão inglesa: os blindados e a infantaria japoneses abrem caminho na floresta e avançam com surpreendente rapidez nas plantações de seringueiras. Na metade de janeiro, o XXV Exército japonês de Tomoyuki Yamashita – que percorreu cerca de 700 km em apenas cinco semanas – chegou a poucos quilômetros da ilha fortaleza. As reservas de água, víveres e munições estão praticamente a zero. Depois de encarniçados combates, o general Arthur F. Percival - comandante da fortaleza de Cingapura – levanta a bandeira branca no dia 15 de fevereiro de 1942. A desastrosa condução da campanha na Malásia culmina com a rendição de mais de 80.000 soldados entre ingleses, australianos, indianos e voluntários malaios que se batiam contra um contingente de 50.000 japoneses. Com a mais desonrosa capitulação de sua história militar, o prestígio do império britânico no Oriente desmorona.”



Março 1942

Queda da Birmânia


“No fim de dezembro de 1941 os japoneses tomam conta da Birmânia, apoiados por incursões aéreas a partir da Tailândia, que devastam grande parte das instalações portuárias de Rangum. O objetivo principal de Tóquio é interromper o fluxo de suprimentos aos nacionalistas chineses que percorrem a linha ferroviária que liga Rangum a Mandalay e dali prossegue através de uma zona montanhosa até Lashio, onde começa o 'caminho da Birmânia', que, depois de uma tortuosa trilha de montanhas, chega a Kunning, no sudoeste da China. Uma vez bloqueado um ataque chinês na fronteira setentrional, os nipônicos conquistam rapidamente o apoio de uma população local que não hesita em se livrar de uma administração britânica opressiva e ineficiente e acolher os novos invasores como libertadores. No dia 8 de março de 1942 Rangum cai, e no dia 15 de maio Lashio capitula.

Depois de uma retirada de cerca de 1.500 km, uma parte dos 60.000 britânicos chega a Assam (ao norte, em direção da China) e outros contingentes de infantaria, que se dirigem para oeste, põem-se a salvo ao cruzar a fronteira indiana. Superioridade aérea e melhores técnicas de combate decretam o sucesso dos japoneses, que em maio detêm o controle total do país. Porta de acesso à Índia – a pérola do império inglês na Ásia -, a Birmânia será doravante teatro de uma guerra travada em condições ambientais extremas, onde a temperatura no verão chega a 55 graus na estação das monções as chuvas chegam a uma precipitação de 40 cm ao dia.”

pp. 153-155 e157


fonte: FIORANI, Flavio. História Ilustrada da II Guerra Mundial. Volume 2. São Paulo: Larousse, 2009. trad. Ciro Mioranza


seleção: LdeM

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Avanço japonês ameaça domínios britânicos




Avanço japonês ameaça domínios britânicos


Afundamento dos navios Repulse e Prince of Wales

A Queda de Singapura


Janeiro / Fevereiro 1942


“Em princípios de dezembro [de 1941] as perspectivas pareciam melhores. Depois da abertura inábil da operação Crusader e da perda do controle por parte de Cunningham, Auchinleck assumira a direção da batalha com uma ordem: “Atacar e perseguir. Com todos os meios e por toda parte.”A vitória estava ao alcance das mãos. Na Rússia, os alemães haviam sido detidos; no dia 5 de dezembro Hitler suspendeu a ofensiva contra Moscou, durante o inverno, e a contra-ofensiva soviética foi desencadeada no dia seguinte. No Extremo Oriente, porém, a esquadra de navios-aeródromos [i.e. porta-aviões] japonesa já se fizera ao mar. No dia 7 de dezembro sucederam o ataque contra Pearl Harbor, o bombardeio de Cingapura e o início dos desembarques na Tailândia e Malaia. Nos dois dias seguintes registraram-se os assaltos contra Hong Kong, Guam, Midway, ilha Wake e filipinas; os encouraçados Repulse e Prince of Wales foram afundados. Inopinadamente, a guerra atingira uma nova dimensão.

Em princípios de 1941, o Primeiro-Ministro da Austrália, Robert Menzies, voou para Londres, via Cingapura, com a única finalidade de discutir o que considerava ser a ameaça japonesa. Antes da reunião no Ministério do Exterior, no dia 26 de fevereiro, na qual apresentou seus pontos de vista, Menzies alinhou algumas ideias. A última delas era a seguinte:

7. Devemos dizer ao Japão, o mais cedo possível, “até onde poderá ir”. O apaziguamento não traz nenhum bem. É preciso definir o limite das coisas. Devo esforçar-me ao máximo, em Londres, para deixar bem claro esta posição. Por que não podemos receber um grupo de caças retirado da África do Norte? Por que não se consegue um compromisso concreto a respeito do reforço naval de Cingapura? Nesta altura dos acontecimentos, promessas nebulosas só agradarão e fortalecerão os japoneses, e mais ninguém.”

Não se definiu o limite de nada. Entre fevereiro e novembro ninguém disse ao Japão 'até onde poderia ir' – isto é, ninguém o ameaçou com uma reação militar à agressão, com uma reação suficientemente potente para obrigar o grupo militarista japonês a alterar o caminho que decidira trilhar. A essência do problema era simples e aparecia de forma crua na anotação de Menzies. Entretanto, era igualmente simples o motivo do fracasso em encarar o problema. Em ultima análise, tratava-se de responsabilidade do Primeiro-Ministro inglês e do Presidente dos Estados Unidos. Mas cada um deles, a seu modo, achava-se impotente.

Churchill viu nitidamente a razão da falta de poder de Roosevelt. Quando a situação aproximava-se do clímax, definiu o problema em uma carta endereçada a Smuts, no dia 9 de novembro:

“Creio não me ser útil, na atual conjuntura, dirigir um apelo pessoal a Roosevelt no sentido de que entre na guerra. Não devemos subestimar as dificuldades constitucionais que o tolhem. Ele pode agir como chefe do Executivo, mas só o Congresso pode declarar guerra. Ele chegou a ponto de dizer-me: 'Jamais posso declarar guerra; posso guerrear. Se eu tiver que pedir ao Congresso que declare guerra, eles serão capazes de levar três meses discutindo o assunto.' A Lei do Serviço Militar Obrigatório, sem a qual o Exército americano teria se desintegrado, foi aprovada por maioria de um único voto... Nos Estados Unidos a opinião pública pode ser convencida aos poucos, mas no Congresso não há outra coisa a fazer a não ser contar os votos. Naturalmente, se eu vislumbrar um meio de ajudar a transferir esta situação para um plano mais elevado, farei todo o possível...”

[…] Na realidade, Roosevelt achava-se impotente não por desconhecimento das coisas, mas por causa do peso morto da opinião pública americana. Portanto, todos os protestos e propostas, todas as advertências e sanções da parte de Washington em 1941 – até mesmo o embargo econômico imposto em julho – careciam de força (e Tóquio sabia disto), porque Roosevelt não podia recorrer à ameaça maior que era a guerra. Ele conseguira vencer a poliomielite, mas a legalidade constituía uma forma mais sutil de paralisia. De fato, a limitação de seus poderes era tão séria que Churchill e seus Chefes de Estado-maior, bem como os chefes americanos, viviam apavorados com a possibilidade de o Japão declarar guerra só à Inglaterra; isto criaria um problema grave, e talvez, insuperável para o Presidente; o de praticar a primeira ação.

[…]

Da forma como Churchill os via, os fatos tornavam-no tão impotente quanto Roosevelt. Os engajamentos em curso eram tão grandes e os recursos da Inglaterra tão reduzidos que não sobrava nada substancial para ser encaminhado ao Extremo Oriente. Se a América não fosse uma aliada, seria irrelevante o pouco que pudesse sobrar. Ainda assim, seria melhor desdobrá-lo onde pudesse ser utilizado com o maior proveito: no Oriente Médio e na Rússia. Se a América se tornasse uma aliada, no fim tudo acabaria bem. A este respeito Churchill foi explícito e impenitente:

“Confesso que a ameaça japonesa permanece na minha mente como que dentro de uma penumbra perigosa, em comparação com as nossas outras necessidades. Sinto que os Estados Unidos entrariam na guerra se o Japão nos atacasse. Se os Estados Unidos não se juntarem a nós, não teremos meios pra defender as Índias Orientais Holandesas ou mesmo o nosso próprio império no oriente. Por outro lado, ficarei contente por ser atacado, caso a agressão japonesa arraste a América para a guerra. É nisto que eu confio. Durante o ano de 1941, as nossas prioridades são: primeiro, a defesa da ilha, aí incluídas a ameaça de invasão e a guerra anti-submarina; segundo, a luta no Oriente Médio e no Mediterrâneo; terceiro, depois de junho, os suprimentos para a União Soviética; e, por último, a resistência contra um ataque japonês.”

[…]

Se o preço da acomodação, exigido pelos Estados Unidos, fosse a entrega das conquistas japonesas na China, não seria possível imaginar que o Alto Comando, em Tóquio, viesse a aceitar uma tal humilhação. Por outro lado, se os embargos econômicos impostos pela Inglaterra, Estados Unidos e Holanda, em julho, não fossem revogados, a nação japonesa teria que escolher entre lutar ou perecer. (As reservas no Japão eram tão reduzidas que, ao ser imposto o bloqueio, o Imperador foi informado de que o combustível existente só poderia abastecer a esquadra durante um ano e meio, em situação de guerra). Assim, o aumento da pressão que precedeu Pearl Harbor, e o próprio ataque, encontrou Churchill despreparado e forçou-o a adotar medidas apressadas, tiradas 'do bolso do colete'. E ele registrou em suas memórias: 'na guerra, a exasperação é uma calamidade que leva consigo a vantagem da surpresa'. Por previdência, poderia ter acrescentado: e coloca o homem no qui vive.

O desastre que Churchill ajudou a ocorrer foi o resultado de uma cadeia curiosa de causa e efeito. Em mensagem expedida da baía de Placentia, ele anunciou que, em breve, como consequência da Conferência do Atlântico [em agosto de 1941], Roosevelt advertiria os japoneses para o fato de que qualquer avanço maior para o sul implicaria na abertura de hostilidades. (Como já vimos, na realidade o presidente tinha ideia diferente). Diante disto, o Almirantado reexaminou a possibilidade de reforçar a Esquadra do Oriente. Existia um plano, a longo prazo, para colocar no oceano Índico, até março de 1942, 7 encouraçados, 1 navio-aeródromo, 10 cruzadores e cerca de 24 contratorpedeiros. Todavia, a disponibilidade de navios de guerra era muito reduzida; a curto prazo, Pound [Almirante Comandante da Frota britânica] propôs o envio de 4 encouraçados antigos para o Índico, juntamente com o deslocamento, em médio prazo, de mais 3 encouraçados, devendo todos eles ficarem baseados em Ceilão. Churchill não gostou da proposta. O que ele queria era um navio moderno e rápido, para operar como dissuasor dentro do triângulo Simonstown – Aden – Cingapura. Durante várias semanas, o Almirantado defendeu seu ponto de vista com amplitude e firmeza, mas o primeiro-Ministro decidiu o contrário. Não há a menor dúvida a este respeito. Churchill confessou a verdade na mensagem enviada aos primeiros -ministros da Comunidade Britânica, em fins de outubro:

“3. Neste ínterim, a fim de dissuadir ainda mais o japão, estamos enviando, já, o nosso encouraçado mais moderno, Prince of Wales, para juntar-se ao Repulse no oceano Índico. Isto está sendo feito sob protesto do Comandante-Chefe da Esquadra metropolitana e constitui um sério risco que corremos. (os grifos são do autor; logo em seguida a 'Esquadra metropolitana', Churchill deveria ter acrescentado 'e Primeiro Lorde do Mar e seu estado-maior') . Dentro de pouco tempo o Prince of Wales aparecerá na Cidade do Cabo. Além disso, assim que estiverem prontos, os quatro encouraçados da classe 'R' deslocar-se-ão para os mares do oriente. Mais tarde, o Repulse será substituído pelo Renown, o qual dispõe de maior autonomia.

4. Na minha opinião, o Prince of Wales constituirá o melhor dissuasor possível; faremos todo o esforço para poupá-lo ao máximo. Entretanto, devo esclarecer que o deslocamento do Prince of Wales será reexaminado quando o navio chegar à Cidade do Cabo, seja por causa da ameaça que representaria um aparecimento do Tirpitz, seja por causa de outras possibilidades operacionais que venham a ocorrer antes da incorporação à esquadra do Duke of York, em dezembro.”

Estes dois itens levantavam dois pontos importantes. O primeiro é a ausência de qualquer referência a um navio-aeródromo; todavia, como o próprio Churchill admitiu, 'um elemento essencial' do seu plano era a inclusão do navio-aeródromo blindado Indomitable. O plano continuou em vigor apesar do encalhe, com avarias, do Indomitable ocorrido no dia 3 de novembro ao largo de Kingston, na Jamaica.

[…]

O fim da história é bem conhecido. Diante do primeiro indício de desembarques japoneses na Malaia, o Almirante Sir Tom Phillips lançou seus dois encouraçados na luta, sem cobertura aérea – se bem que não houvesse disponibilidade de meios para constituir uma cobertura aérea digna deste nome. No dia 10 de dezembro os navios foram atacados por uma força japonesa de aviões lançadores de torpedos e bombardeiros, uma força especialmente treinada para atacar navios. Entre 11h30min e 13h20min, os japoneses afundaram os dois encouraçados e os ingleses ainda perderam um terço dos 3.000 tripulantes.”

[…]


pp. 142-148 [trechos]

fonte: LEWIN, Ronald. Churchill O Lorde da Guerra. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exérito, 1979. trad. Cel Álvaro Galvão.


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Sobre o afundamento dos navios Repulse e Prince of Wales






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