domingo, 24 de julho de 2011

As Etapas do Holocausto / Shoah / Solução Final



Endlösung der Judenfrage

Final Solution

ou Holocaust

ou Shoah


As Etapas do Holocausto


1/ Recenseamento (desde 1933/34)

2/ Segregação (na Alemanha)
após as Leis de Nuremberg (1935)

3/ Segregação na Europa (1939-42)

4/ Trabalhos forçados

Eliminação (Einsatgruppen SS)

Solução Final (pós-1942)
Conferência de Wannsee
(os Carrascos Voluntários)

1942: Ápice do Eixo
antes das Derrotas em El Alamein e Stalingrad

5/Tentativa de eliminação de vestígios
(principalmente no Leste)
(desenterrar e incinerar)




O que foi o Holocausto ou Shoah?


documentário BBC

outros


Shoah o filme
(diretor: Claude Lanzmann)

videos

 ...


O Recenseamento


O recenseamento possibilita - além de contagem da população – um controle, uma supervisão, tudo atraveś de uma instrumentalização de estatísticas demográficas.

Os dados devidamente classificados possibilitam uma política de exclusão social, econômica e geográfica. Primeiro os judeus perdem os empregos, o acesso ao consumo (lojas não negociam mais com judeus, ou 'judeus não são bem-vindos'), depois são segregados em certos bairros das cidades – formam-se os guettos.

O governo nazista sistematiza o 'monitoramento' dos cidadãos, e a IBM (Internacional Business Machine, através da 'filial' Dehomag, Deutsche Hollerith Maschinen Gesellschaft) fornece os serviços de catalogação, fichamento, computação e estatística. Ou seja, o que chamamos de 'processamento de dados'. Tudo através das máquinas tabuladoras 'alimentadas' com os cartões perfurados (os 'hollerith').

A IBM que crescera ao longo do governo de Roosevelt, que se notabilizou por uma crescente burocratização, com intervenção estatal na economia (ver 'New Deal'), com fartura de formulários, relatórios, etc. O importante era catalogar, classificar, quantificar, identificar. Então eis o serviço da IBM.

Na Alemanha, o recenseamento começou em abril de 1933, primeiramente no leste (na Prússia), onde o Censo recolhia informações tais como nome, idade, descendência, escolaridade, profissão, religião, etc.

Além do serviço de Censo, a Dehomag cuidava de outras informações vitais para o centralismo alemão da época: horário dos trens, peças para armamentos e aviões, etc.

Enquanto o III Reich se preocupava com a 'higiene racial' e almejava a segregação (e posterior eliminação, a 'ethnic cleasing' da Endlösung) a IBM atuava com o processamento de informação na política demográfica, através do serviço de estatística.

A identificação dos judeus foi apenas o primeiro passo da trajetória de destruição anti-semita na Alemanha.” (p. 49, c. 2)

e mais,

Mas só seria possível extinguir a vida judaica se os nazistas primeiro conseguissem identificar os judeus. Quais dos 60 milhões de cidadãos alemãos eram judeus? E qual era extamente a definição de 'judeu'? Os judeus alemães estavam entre os mais assimilados de toda a Europa.” (p. 58, c. 3; grifo meu)

Os judeus viviam na Alemanha desde o século IV d.C., e numa processo de 'assimilação', ao integrarem o modo de vida europeu, a religião cristã, considerando mesmo europeu, ou alemão. Outros seguiam um 'Judaísmo Reformista', enquanto outros eram 'livre-pensadores' – jornalistas, filósofos, poetas, etc. Os ortodoxos eram aqueles judeus que mantinham a religiosidade judaica, recusando a 'assimilação'.

Na criação do II Reich (1871) houve mais liberdade (i.e., menos restrição) para os judeus assimilados, que ascenderam a vários cargos pequenos-burgueses (comércio, advocacia, vida acadêmica, etc)

O Censo se inicia com o recenseamento prussiano (segundo o capítulo 3, “Identificando os Judeus”),

“Em 16 de junho de 1933, meio milhão de recenseadores, recrutados nas fileiras dos imbuídos de 'mentalidade nacionalista', partiram para a jornada porta a porta em busca de informações. Quadros de milicianos nazistas [SA] e de oficiais das SS também se juntaram ao empreendimento, constituindo um verdadeiro exército censitário. Em algumas localidades, quando o recrutamento se mostrava insatisfatório, as pessoas eram arregimentadas à força. As entrevistas abrangiam perguntas diretas sobre a religião do chefe de família e se no caso o casamento era misto.

Basicamente, a quantidade de dados armazenados num cartão era função do número de orifícios e colunas. [...] Esses 600 orifícios nos cartões, distribuídos em infindáveis combinações, proporcionavam milhares de permutações demográficas. [...] Em breve, o Reich tinha condições de iniciar o processo de identificação – quem era ariano e quem era judeu.

As estatísticas demográficas haviam transposto a fronteira crucial entre ciência das massas anônimas e a investigação das características pessoais.”

p. 62

“Uma vez perfuradas [nos cartões hollerith], as colunas passavam a dispor de informações pessoais sobre os indivíduos: local de residência, comunidade, sexo, idade, religião, língua materna, quantidade de filhos, ocupação atual e segundo emprego, se existente.” p. 64

“Quando se descobriam judeus dentro da população, registrava-se o local de nascimento num 'cartão de contagem de judeus', com características especiais, processados à parte.” p. 64


Dehomag (Deutsche Hollerith Maschinen Gesellschaft)


“As preciosas informações da Dehomag agora ajudaram a impelir a nova e florescente parelha oficial de pseudociência e ódio racial. Na flata de estatísticas genuínas, higiene racial, política étnica e uma constelação de disciplinas anti-semitas correlatas eram até então nada mais do que conversa fiada. Agora, a capacidade de identificar os judeus pelo nome deflagaria toda uma tormenta trovejante de leis e regulamentos anti-semitas, restringindo a presença de judeus em todas as manifestações da vida acadêmica, profissional, comercial e governamental. [...]” (grifos meus)



ver as Leis de Nuremberg / 1935



A perseguição aos judeus – banimento da vida profissional e econômica – ocupava as páginas do New York Times nos anos de 1933-34 – logo, não havia 'inocência': quem era 'informado' (tinha acesso aos jornais) sabia das práticas racistas dos novos governantes alemães.

Tanto que várias comundidades judaicas realizaram manifestações de protesto em cidades americanas e capitais europeias. Havia uma tendência de boicote aos produtos alemães em New York – além de pressão sobre empresas que negociavam com alemães.

Mas os protestos antinazistas não desencorajaram o Sr. Watson da IBM. Por mais que os nazistas agora limitassem, e até proibissem, a saída de capitais – e lucros – das empresas multinacionais na Alemanha, pois as empresas estrangeiras também se ajustavam à 'coordenação total' [Gleichschaltung] dos nazistas – se submeter, se integrar, a estrutura organizacional do estatismo fascista – o Estado controla os negócios ( o anti-liberalismo do 'mercado livre', afinal o fascismo é um capitalismo antiliberal, do tipo 'corporativo').

Para as corporações importa ganhar dinheiro, ter lucros, “com verdadeiro 'darwinismo social', culto corporativo, chauvinismo dinástico e ganância egocêntrica” (p. 77), não importam os 'imperativos morais', mas se há Lucro. Assim se negociam vendas de armas, segredos de Estado, assim se é cúmplice com guerras civis, guerras mundiais e genocídios.

Watson tinha contatos no alto escalaão nazista, com o embaixador alemão nos EUA, além de 'livre entrada' no governo de Roosevelt, reeleito. E há uma correspondência entre Watson e Roosevelt sobre política. Watson foi convidado para cargo no governo [Secretário de Comércio], mas preferiu ficar na IBM.

A IBM tinha outras filiais importantes na Europa – em Paris e Genebra – para transferir lucros da Alemanha, ao mesmo tempo em que mantinha vigilância sobre os negócios da Dehomag.

[...]

fonte:

BLACK, Edwin, IBM e o Holocausto. (IBM and the Holocaust, 2001)
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2001. trad. Afonso Celso da Cunha Serra


internet

fontes:

sobre a IBM


videos sobre IBM e Holocausto

material da TV Globo





Mais sobre estatísticas e segregação

Minha fonte é o livro “IBM e o Holocausto” (Edwin Black)
(pp. 100-101)


“A ideologia nazista definia judaísmo não em função da prática religiosa, mas pelo sangue. Até onde remontar? Os teóricos nazistas discutiam sobre o rastreamento das origens. Alguns limitavam-se aos avós. Outros sugeriam que se pesquisassem quatro gerações. Ainda outros se fixavam no ano de 1800, antes da emancipação dos judeus, ou seja, anterior à assimilação na sociedade alemã.

[...] Os especialistas raciais judeus desenvolveram uma fórmula matemática bizarra que classificava os descendentes de judeus numa série de graus, como judeu pleno, meio judeu, um quarto judeu, dependente de quantos ancestrais judeus eram identificados nas respectivas estirpes. [...]” (pp. 103-104)

“[...] Cadastros de não alemães se espalhavam por delegacias policiais, birôs de emprego, associações profissionais, organizações religiosas, unidades locais do Partido nazista e a Agência de Segurança da SS, Sicherheitsdienst, conhecida como SD, sob o controle de Reinhard Heydrich, alcunhado o carrasco.” p. 106


Catalogação e discriminação
Tabulação e Eugenia

“As denúncias e as avaliações de rotina, de natureza genética, eram julgadas pelas Cortes de Saúde Genética, com base na acombinação de provas circunstanciais e dados Hollerith. Os acusados abrangiam pais culpados por não mais do que a infelicidade de darem à luz crianças com defeitos de nascença; os inocentes recém-nascidos dos estatisticamente suspeitos; indivíduos desamparados, condenados por depressão e outros problemas psiquiátricos, num mundo enlouquecido; e os que simplesmente não se ajustavam ao novo ambiente nazista.” (p. 111)

“Em fins de 1934, as atividades médicas, de benefícios sociais e de seguros foram integradas nos programas de registro em cartões perfurados pelos asilos de idosos e pelos sanatórios de doenças crônicas, assim como por um número cada vez maior de profissionais da área de assistência médica. Iniciou-se o cadastro de pessoas anti-sociais. Heinrich Himmler, chefe da SS, inaugurou o Anuário Estatístico da SS. Além disso, cursos de 'educação continuada' em higiene racial, ministradas por renomados estatísticos, recebiam ampla publicidade.” (p. 119)


A segregação – carteiras de trabalho e cartões de racionamento

Quem não tivesse carteira de trabalho não podia conseguir emprego, e muito menos acesso aos cartões de racionamento. Estava, assim, condenado a mendicância ou a morte por fome.

“Finalmente, cartão por cartão, seleção por seleção, todas as pessoas de qualquer estirpe judaica seriam erradicadas de todos os segmentos da sociedade alemã, por mais que tentassem ocultar-se.” (p. 120)

“A alvorada da Era da Informação começava com o ocaso da decência humana.” (p. 120)




BLACK, Edwin, IBM e o Holocausto. (IBM and the Holocaust, 2001)
Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2001. trad. Afonso Celso da Cunha Serra

internet

fontes:

sobre a IBM

resumo da obra

sobre o processamento de dados
durante a Segunda Guerra Mundial e depois


LdeM

sexta-feira, 15 de julho de 2011

As relações nipo-americanas - julho 1941




Relações nipo-americanas


“Para compreender outro problema internacional que afetava os Estados Unidos, precisamos voltar e traçar as relações nipo-americanas de 1939 a dezembro de 1941. Muitos americanos tinham seguido com aversão o avanço do imperialismo japonês na Ásia. Os Estados Unidos depositavam muitos interesses na China,  interesses em parte sentimentais e religiosos, em parte baseados em considerações comerciais e talvez num ponto de vista exagerado da importância do mercado chinês, e em parte com relação à posição das Filipinas. Em vista de todos esses fatos, não pode parecer estranho que a diplomacia americana fosse antagônica ao Japão. Não obstante, o governo procedia cautelosamente, sem querer, com certeza, provocar qualquer atrito com Tóquio. No início de 1938 ofereceu um empréstimo à China; reforçou suas forças no Pacífico e insistiu junto aos industriais americanos para que não exportassem aviões para o Japão. Em agosto de 1939, o governo americano denunciou o tratado comercial com o Japão e, depois do necessário intervalo de seis meses, o tratado foi declarado formalmente nulo. Em julho de 1940, a exportação de petróleo e de sucata de ferro foi restringida por força de uma licença especial do governo; uma semana depois foi proibida a exportação de gasolina de avião.


Entrementes, os japoneses continuavam a avançar. Na primeira fase da guerra Tóquio procedia cautelosamente, mas a queda da França encorajou os militaristas nipônicos a ocupar o norte da Indochina. Mais importante ainda, e na realidade ameaçadora, foi a assinatura de um pacto tripartide, no dia 27 de setembro de 1940, entre o Japão, a Alemanha e a Itália. Em sua fraseologia esse pacto era defensivo e só obrigava os signatários a entrar em guerra quando um deles fosse atacado. Mas reconhecia em termos claríssimos a 'liderança do Japão' no estabelecimento de uma 'nova ordem' na Ásia Oriental e, evidentemente, pretendia exercer pressão sobre os Estados Unidos. O pacto, naturalmente, causou indignação em Washington; o Governo Roosevelt revidou aumentando sua ajuda ao governo chinês do General Chiang Kai-shek terrivelmente pressionado.”
pp. 122-123 (grifos meus)


fonte: PERKINS, Dexter. A Época de Roosevelt. 1932 -1945. (The New Age od Fraklin Roosevelt. 1932 -1945. University of Chicago, 1957) trad. Edilson Alkimim Cunha. Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1967.




seleção por Leonardo de Magalhaens






O Japão e o Extremo Oriente


“No Extremo Oriente, faz tempo que os acontecimentos da guerra europeia criaram um vazio que o Japão se apressa em preencher. Na metade de 1940, nem paris nem Londres nem Haia estão em condições de defender suas possessões asiáticas. A ofensiva diplomática e militar desferida para constituir a 'grande área de domínio japonês', com a qual Tóquio pretende reduzir a influência das potências coloniais europeias, tem em vista diversos objetivos. E um deles, não o último em importância, é o de se apoderar dos enormes recursos naturais de muitos países da área do Pacífico.


O plano imperial japonês determina diversos setores de importância econômica e estratégica: as matérias-primas essenciais das Índias holandesas (a hoje Indonésia), a posição-chave da Indochina francesa (por cujos portos passam os suprimentos para a resistência chinesa e cuja área setentrional é ocupada pelos japoneses com o beneplácito de Vichy), a Malásia (a praça-forte de Cingapura é o sustentáculo do sistema de defesa britânico no Extremo Oriente), o corredor da Birmânia (para obter outra via de penetração na China), a passagem de Sião (hoje Tailândia) como retaguarda para um eventual ataque em Cingapura. Com essa concepção político-estratégica global – sancionada no pacto tripartite -, o Japão quer induzir Washington a um compromisso cujo fim imediato é o reconhecimento de sua hegemonia sobre a China. A atrevida política externa de Tóquio obtém consideráveis resultados: além das bases na Indochina francesa, o Japão obtém dos ingleses o fechamento da 'estrada da Birmânia' e a interrupção dos suprimentos à resistência chinesa, e consegue dos holandeses o abastecimento de petróleo, borracha e bauxita de suas Índias orientais. Últimas e não menos ambiciosas peças do jogo imperial japonês são as Filipinas, sobre as quais os americanos detêm um protetorado desde o final do século anterior.



[…]


A Pressão Americana


Em junho de 1941, Roosevelt imprime uma mudança de rota nos indecisos anseios estratégicos e na cautela política que inspiraram a conduta americana no Pacífico. Washington começa a exercer uma efetiva pressão econômica e financeira, congelando os bens japoneses nos Estados Unidos e instituindo um embargo petrolífero para estrangular a economia nipônica e intimando Tóquio a deixar a Indochina e a China, aceitando o princípio da 'porta aberta' em matéria de expansão colonial. O chamado 'lobby chinês' constitui um poderoso grupo de interesses em condições de influenciar a política externa americana e reclama de Roosevelt um aperto de parafuso mais incisivo para obrigar o Japão a se retirar dos territórios conquistados. Embora as negociações diplomáticas entre as duas potências que disputam o controle da Ásia oriental e do Pacífico prossigam até o fim de novembro de 1941, para ambas o desafio vai muito além de uma divisão diplomática da Ásia em distintas áreas de influência.

Para Tóquio – onde, com o aval do imperador Hirohito, o general Hideki Tojo substituiu no governo o moderado Fumimaro Konoye – não resta senão o choque frontal com os Estados Unidos.

Descartada toda hipótese de intervenção contra a União Soviética e de rescisão da aliança com Berlim como solicitado por Washington, o Japão acelera os preparativos para a ofensiva militar no Pacífico como último recurso para evitar o estrangulamento econômico e energético. Seu projeto de criação da 'esfera de coprosperidade na Ásia oriental', que deverá minar os domínios imperiais britânico e francês, entrou em rota de colisão com a potência econômica e militar americana.”


pp. 117-121

fonte: FIORANI, Flavio. História Ilustrada da II Guerra Mundial. Vol. 2. SP: Larousse, 2009.


seleção por Leonardo de Magalhaens

...


mais sobre a máquina de guerra nipônica

(em italiano)

(english)


na Guerra Sino-Japonesa
(english)



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Objetivos da Operação Barbarossa - 1941



Os Objetivos da Operação Barbarossa


“A operação Barba-Roxa (do apelido de Frederico I, imperador alemão do século XII) deve sancionar – segundo os ditames de Hitler – a posição de 'predomínio mundial do Reich', uma vez conquistado o controle do espaço europeu oriental. Contrariamente à campanha da França, a União Soviética deve ser conquistada com a mesma crueldade das guerras medievais e não apenas batida militarmente. Hitler enquadra a invasão de junho de 1941 no âmbito desse projeto de dominação continental com a qual pretende estender as fronteiras do Reich do Atlântico aos Urais. É o salto de qualidade próprio dessa 'guerra total' que tem a finalidade de destruir qualquer potência militar a leste da Alemanha e realizar a 'solução final da questão judaica na Europa'.


Dez semanas são o espaço de tempo julgado necessário pelos estrategistas alemães para aniquilar o aparato militar soviético com a guerra-relâmpago. Os objetivos militares são indissoluvelmente ligados aos políticos: garantir ao Terceiro Reich o controle total da Europa e obrigar, portanto, a Grã-Bretanha ao armistício antes do ingresso – julgado praticamente inevitável – do inimigo principal no conflito: os Estados Unidos. Hitler propõe a Tóquio atacar a União Soviética no âmbito de uma aliança global, sem obter resultado algum.


O ministro do Exterior Josuke Matsuoka, que até então conduzira as negociações com o Eixo, foi destituído em julho de 1941, e o Japão então dá prioridade à expansão no Sudeste Asiático (a 'esfera de bem-estar da grande Ásia oriental'), que implica o conflito com os Estados Unidos e, por conseguinte, opta por cobrir as próprias costas com a neutralidade para com a União Soviética.


Blitzkrieg no Oriente


Antes da invasão, Hitler declarou que a guerra com a União Soviética era uma 'guerra ideológica e de diferenças raciais'. O objetivo do ultimato era a sujeição dos povos eslavos e sua destruição como entidade política com um Estado próprio, a conquista dos grandes territórios do Leste e a abertura do 'espaço vital' aos colonos alemães. A germanização dos territórios do leste do Reich é resultado de uma concepção ideológico-racial que pretende transformar a Rússia europeia em colônia alemã e eliminar populações inteiras, identidades nacionais e comunidades raciais. O continente será germanizado com a prática do terror e o extermínio dos judeus dos territórios soviéticos ocupados e da Europa oriental.


A operação Barba-Roxa é o ponto de virada do conflito não só em termos estratégicos e militares: com a guerra no leste, é desconsiderado qualquer princípio humanitário e cancelada qualquer norma do direito internacional. Nenhum direito será reconhecido às populações submetidas, nenhuma convenção internacional ou lei de guerra será respeitada e toda a riqueza dos territórios conquistados será destinada às exigências da máquina produtiva alemã. O Terceiro Reich não tem intenção alguma de 'libertar' as populações locais (a despeito do que pensam aqueles que no Báltico e na Ucrânia esperam livrar-se dos soviéticos). Se as batalhas são conduzidas com uma impiedade nunca vista antes no decorrer do conflito, o extermínio em massa que começou desde os primeiros dias da invasão, o massacre dos prisioneiros russos e o sistemático extermínio dos judeus por parte das SS de Heinrich Himmler (que no fim de 1941 já fez meio milhão de vítimas), o assassinato dos comissários políticos e dos dirigentes comunistas são testemunhas de uma concepção que considera a guerra como um sistemático instrumento profilático no choque entre povos e raças.


Longe de ser uma exigência de natureza militar, o genocídio está estreitamente ligado à ideologia de guerra nazista. Uma 'guerra total', da qual nenhum civil deve escapar e que reduz a um campo de ruínas as aéreas cuja germanização a Wehrmacht deve garantir. No fim do conflito, somente na União Soviética, o resultado desse plano se traduz em cifras espantosas: as perdas totais atingem 20 milhões de pessoas.”

(pp. 106, 108-109)


fonte: FIORANI, Flavio. História Ilustrada da II Guerra Mundial. Vol. 2. SP: Larousse, 2009.



...


Hitler invade a Rússia

(Cap. XV de “O Outro Lado da Colina”)


“No que diz respeito aos motivos de Hitler para a invasão, um esclarecimento maior foi dado mais tarde por Warlimont, que, estando no Comando Supremo da Wehrmacht, encontrava-se mais intimamente ligado à linha do raciocínio de Hitler durante os meses em que esse raciocínio fora canalizado para uma decisão definitiva.


'A resposta à pergunta por que Hitler invadiu a Rússia, é , creio eu, que ele encontrava-se exatamente na mesma situação de Napoleão. Ambos consideravam a Grã-Bretanha como seu mais forte e perigoso adversário. Ambos não puderam se convencer da necessidade de vencer a Inglaterra invadindo as ilhas britânicas. Ambos acreditavam, contudo, que os ingleses poderiam ser forçados a entrar em acordo com a potência europeia dominante, se não tivesse mais possibilidade de contar com um aliado bem armado no continente. Ambos suspeitavam que a Rússia torna-se-ia aliada da Grã-Bretanha. Ambos reconheceram que esse perigo cresceria gradualmente à medida que a guerra se prolongasse. Ambos estavam convencidos de que a potência central (Alemanha) não podia permitir que as potências periféricas (Grã-Bretanha e Rússia) esperassem pelo momento mais favorável para dominarem juntas o coração do continente. Assim sendo, tanto Napoleão quanto Hitler eram de opinião que tinham de atacar oportunamente – estando, cônscios ou não, em uma posição de defesa estratégica.'


[…]


Pode-se observar na narrativa de Warlimont que a tendência de subestimar a força russa não se restringia a Hitler, e tampouco ao seu grupo mais chegado – ao contrário do que Kleist dissera (o próprio Kleist, vim a descobrir, inclinava-se sempre a valorizar mais o Exército Vermelho do que seus pares). O estado-maior pode não ter subestimado as dificuldades de uma campanha na Rússia, mas certamente avaliou por baixo o número de divisões que os russos poderiam trazer para lutar com os alemães. É muito significativo um registro no diário de Halder depois que a campanha já se desenrolava há dois meses: 'Nós subestimamos a Rússia: calculávamos 200 divisões, mas agora já tínhamos identificado 360.'


Embora o Serviço de Informações Alemão subestimasse as forças russas, o que realmente divulgava era motivo de apreensão: haveria o perigo iminente de um ataque russo. A concentração de divisões na fronteira ocidental e na Polônia ocupada continuou aumentando firmemente durante a primeira metade de 1941, e em maio atingia o dobro do número anterior ao início da guerra com a Polônia. A concentração da força aérea e a expansão dos campos de pouso também foram muito marcantes. Tudo isto serviu para fomentar os receios de Hitler. Quando ele falava com seus generais e outras pessoas a respeito da possibilidade de um ataque russo ainda antes do verão, havia poucas dúvidas de que estivesse expressando receios que realmente sentisse, e que muitos dos seus assessores compartilhavam. Isto não significa obrigatoriamente que tais receios fossem corretos – os alemães sempre tiveram a tendência de supervalorizar a reação natural que as medidas que eles mesmos tomavam causavam em outros povos, e isto era particularmente verdadeiro no caso de Hitler. Por outro lado, é compreensível que com os efetivos russos na zona da fronteira aumentando a cada relatório, Hitler sentisse que o tempo estava ficando curto.


Mesmo assim, é espantoso que Hitler tenha invadido a Rússia sabendo que suas forças seriam inferiores à do inimigo, e que seriam cada vez mais inferiores se a campanha se prolongasse. Só isso fazia da invasão uma jogada sem precedente na história moderna. Quando o plano de Hitler fora mostrado aos governos em fevereiro, eles se sentiram perturbados com as estimativas feitas por Halder dos efetivos de um e outro lado. Pois até mesmo nos números germânicos o Exército Vermelho tinha o equivalente a 155 divisões na Rússia Ocidental, enquanto que as forças atacantes chegavam tão somente a 121. (Na verdade essa estimativa de forças imediatamente disponíveis foi ultrapassada.) A convicção de que as tropas alemãs eram 'muito superiores em qualidade' não bastavam para acalmar seus receios.”


(pp. 216; 218-19)



fonte: HART, B. H. Liddell. O Outro Lado da Colina. RJ, Biblioteca do Exército, 1980. (The Other Side of the Hill, trad. Cel. Art. QEMA Luiz Paulo Macedo Carvalho e Cel. Inf. QEMA Haroldo Carvalho Neto)



Julho de 1941 na Rússia / Ucrânia

Batalha de Smolensk – 6 de julho – 5 de agosto 1941

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Agosto – Setembro 1941

Cerco de Leningrado

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